Crónica

Eduardo Prado Coelho, ensaísta, na sua crónica no Público:
«[...] Na fila à frente da minha, vemos um desses casais. Eles nem se dão conta de que eu existo. Ela, num rosto sem maquilhagem nem bronzeamentos, volta-se para ele, põe os braços no pescoço, e vai-lhe mordiscando a face. De súbito, esse mordiscar transforma-se em voracidade e começa a beijá-lo empolgadamente, como quem o quer incorporar em si. É uma fome antiga. Começa então um beijo que me parece interminável (talvez a eles pareça demasiado curto). É um beijo profundo que de repente os atravessa e os cobre, e ninguém sabe quando irá parar. Surpreendo-me a pensar que haverá um momento em que um deles decide que o beijo chegou ao seu termo e o outro aceita que as bocas se separem. É quando eles regressam da nuvem que passava dentro deles. Mas quem decide que acabou? E porquê? Desejaríamos que certos instantes durassem para sempre e a pele tivesse a leveza pura da água. A barca chega ao outro lado da baía e eles saem em andamento apressado. A vida recomeça.»
«[...] Na fila à frente da minha, vemos um desses casais. Eles nem se dão conta de que eu existo. Ela, num rosto sem maquilhagem nem bronzeamentos, volta-se para ele, põe os braços no pescoço, e vai-lhe mordiscando a face. De súbito, esse mordiscar transforma-se em voracidade e começa a beijá-lo empolgadamente, como quem o quer incorporar em si. É uma fome antiga. Começa então um beijo que me parece interminável (talvez a eles pareça demasiado curto). É um beijo profundo que de repente os atravessa e os cobre, e ninguém sabe quando irá parar. Surpreendo-me a pensar que haverá um momento em que um deles decide que o beijo chegou ao seu termo e o outro aceita que as bocas se separem. É quando eles regressam da nuvem que passava dentro deles. Mas quem decide que acabou? E porquê? Desejaríamos que certos instantes durassem para sempre e a pele tivesse a leveza pura da água. A barca chega ao outro lado da baía e eles saem em andamento apressado. A vida recomeça.»