boomerang
À hora certa, no sítio certo, à hora errada no sítio errado…toda a verdade!
Escavando ao fundo das emoções, descobrindo o inesperado no familiar. O amor, a terra o desejo, tocando pontos comuns.
Desde a invenção do conceito de inferno que podemos, sem dificuldade de maior, recriar o mais pequeno movimento ocorrido nos tempos passados. O leve cair da nossa pena fica gravado para sempre…é o nosso próprio inferno, omnipresente, que nos guarda dos nossos actos e actua como grande guardião da mente e da vontade.
A vida é como um boomerang. Antes de praticarmos um acto já temos presente que tal ocorrência ficará, sem dúvida, sujeita ao futuro escrutínio.
Escavando ao fundo das emoções, descobrindo o inesperado no familiar. O amor, a terra o desejo, tocando pontos comuns.
Desde a invenção do conceito de inferno que podemos, sem dificuldade de maior, recriar o mais pequeno movimento ocorrido nos tempos passados. O leve cair da nossa pena fica gravado para sempre…é o nosso próprio inferno, omnipresente, que nos guarda dos nossos actos e actua como grande guardião da mente e da vontade.
A vida é como um boomerang. Antes de praticarmos um acto já temos presente que tal ocorrência ficará, sem dúvida, sujeita ao futuro escrutínio.
ºo
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oNesse dia corria uma brisa. Já fresca de fim de verão. Deus e o Diabo apareceram depois do jantar, para tomar café. Levei-os ao “Teixeira” que já tinha feito remodelações no inverno. Sempre foi poiso sossegado. Depois do café podiamos ir mais para baixo, para a Avenida, beber um copo. Se fosse caso disso.
Logo à entrada do "Teixeira" , Deus pegou-me no braço e perguntou-me “Se era verdade que eu ia abandonar a cidadania por motivos de concorrência e baixos custos?”
Respondi que sim, que de facto já enviara a carta de rescisão de cidadania ao Presidente da República. Havia-o feito já há uma semana. E anulara o B.I. , o Cartão de Contribuinte e todos os demais cartões relativos à minha relação com o Estado. Claro que pagara todas as contribuições e taxas devidas! Sempre!
“Sim?”, retorquiu o Diabo de sobrolho sempre atento.
Expliquei que, era apenas a lógica de mercado a funcionar! Visto ter melhores condições noutros estados, condições de saúde, de ensino, de segurança social e mesmo de realização pessoal... mediante pagamentos mais reduzidos! Era a lógica de mercado a funcionar a economia global no seu esplendor, aquilo que os nossos governantes tanto gostam! Não é ? O global!?
“Bem, isso é perfeitamente compreensível” acenou com a cabeça o Diabo, “Mas o que nos trouxe aqui não é isso!” continuou, enquanto nos sentavamos numa daquelas mesas apertadas para três cadeiras. Pedimos três bicas e um copo de água para Deus.
Dois miúdos pequenos tentavam tirar bolas coloridas, de uma dessas máquinas de moedas que agora são comuns em todos os cafés de bairro. Mas faziam-no com tal alarido que era impossível alguém deixar de os fixar.
Bebi o café em dois tragos e arrependi-me de não ter pedido um copo de água. Pressentia uma conversa longa.
“Temos presenciado, com algum desagrado” disse Deus, depois de acabar a bica, “que a tua atitude desprendida e libertária não é exclusiva do contrato social Estado-Cidadão, mas se alarga a tudo o que são as normas vigentes da relação do indivíduo, com Deus e o Inferno, com o Bem e o Mal!”, continuou com ar sério e apreensivo.
Respondi que sim. Sempre tivera dificuldade em cumprir regras que não estivessem de acordo com o meu sentimento e vontade. Que muitas regras eram grilhões atávicos, vindos das profundidades da moral tradicional, que me tinham sido passadas como verdades válidas mas às quais eu podia renunciar.
Na verdade confiava, muito modestamente, no meu bom senso para descobrir em cada caso onde está o Bem e o Mal. Não que fosse especialmente dotado, longe disso, para tal análise! Mas…
“Essa solução parece-me, também, razoável” interrompeu o Diabo, com as sobrancelhas levantadas de viva emoção. “Os melhores satânicos acreditam precisamente nessa força superior do indivíduo!” continuou exaltado, “como superior forma de vida, nesse poderio da vontade humana!” completou enquanto me estendia a mão aberta.
Expliquei que vi uma matemática indecifrável, entre o querer; e o deve; e o haver. E mais mil e uma coisas que, modestamente, não conseguia entender. Mas que sabia que dependemos de toda a luz brilhante que se solta da nossa força de querer. Temos em nós, um brilho interno, um brilho de luz e amor. Por isso mais depressa seria budista que satânico ou católico ou outra coisa qualquer…Não fossem as verdades transcendentais…e eu tomava café era com Buda!
“Tens de ter cuidado com o que queres... não achas?” avisou Deus com ar grave, “Não sei se te diga... de facto não estás bem... tens todo o ar de intoxicação, por excesso de expectativas na matemática da vida. Tens sempre sinal menos e sinal mais... estás a perceber?”
Respondi que sabia bem o que sinto. E que eu só quero o que sinto... que serei sempre o que sinto. Afinal sinto, estou vivo, não é ?Porque se a vida se pode referir ao processo em curso, do qual os seres vivos são uma parte; ou ao espaço de tempo entre o nascimento e a morte dum organismo;ou mesmo à condição duma entidade que nasceu e ainda não morreu. .. Não será, acima de tudo, aquilo que faz com que um ser vivo esteja… vivo? Essa força brilhante que se solta do ser?
Pedi um copo com água e paguei o café. Deixei uma chávena solitária no balcão do café. Deus e o Diabo continuaram a lutar com quem entrava, por uma moeda grátís, para a máquina das bolas coloridas.
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Logo à entrada do "Teixeira" , Deus pegou-me no braço e perguntou-me “Se era verdade que eu ia abandonar a cidadania por motivos de concorrência e baixos custos?”
Respondi que sim, que de facto já enviara a carta de rescisão de cidadania ao Presidente da República. Havia-o feito já há uma semana. E anulara o B.I. , o Cartão de Contribuinte e todos os demais cartões relativos à minha relação com o Estado. Claro que pagara todas as contribuições e taxas devidas! Sempre!
“Sim?”, retorquiu o Diabo de sobrolho sempre atento.
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Expliquei que, era apenas a lógica de mercado a funcionar! Visto ter melhores condições noutros estados, condições de saúde, de ensino, de segurança social e mesmo de realização pessoal... mediante pagamentos mais reduzidos! Era a lógica de mercado a funcionar a economia global no seu esplendor, aquilo que os nossos governantes tanto gostam! Não é ? O global!?
“Bem, isso é perfeitamente compreensível” acenou com a cabeça o Diabo, “Mas o que nos trouxe aqui não é isso!” continuou, enquanto nos sentavamos numa daquelas mesas apertadas para três cadeiras. Pedimos três bicas e um copo de água para Deus.
Dois miúdos pequenos tentavam tirar bolas coloridas, de uma dessas máquinas de moedas que agora são comuns em todos os cafés de bairro. Mas faziam-no com tal alarido que era impossível alguém deixar de os fixar.
Bebi o café em dois tragos e arrependi-me de não ter pedido um copo de água. Pressentia uma conversa longa.
“Temos presenciado, com algum desagrado” disse Deus, depois de acabar a bica, “que a tua atitude desprendida e libertária não é exclusiva do contrato social Estado-Cidadão, mas se alarga a tudo o que são as normas vigentes da relação do indivíduo, com Deus e o Inferno, com o Bem e o Mal!”, continuou com ar sério e apreensivo.
Respondi que sim. Sempre tivera dificuldade em cumprir regras que não estivessem de acordo com o meu sentimento e vontade. Que muitas regras eram grilhões atávicos, vindos das profundidades da moral tradicional, que me tinham sido passadas como verdades válidas mas às quais eu podia renunciar.
Na verdade confiava, muito modestamente, no meu bom senso para descobrir em cada caso onde está o Bem e o Mal. Não que fosse especialmente dotado, longe disso, para tal análise! Mas…
“Essa solução parece-me, também, razoável” interrompeu o Diabo, com as sobrancelhas levantadas de viva emoção. “Os melhores satânicos acreditam precisamente nessa força superior do indivíduo!” continuou exaltado, “como superior forma de vida, nesse poderio da vontade humana!” completou enquanto me estendia a mão aberta.
Expliquei que vi uma matemática indecifrável, entre o querer; e o deve; e o haver. E mais mil e uma coisas que, modestamente, não conseguia entender. Mas que sabia que dependemos de toda a luz brilhante que se solta da nossa força de querer. Temos em nós, um brilho interno, um brilho de luz e amor. Por isso mais depressa seria budista que satânico ou católico ou outra coisa qualquer…Não fossem as verdades transcendentais…e eu tomava café era com Buda!
“Tens de ter cuidado com o que queres... não achas?” avisou Deus com ar grave, “Não sei se te diga... de facto não estás bem... tens todo o ar de intoxicação, por excesso de expectativas na matemática da vida. Tens sempre sinal menos e sinal mais... estás a perceber?”
Respondi que sabia bem o que sinto. E que eu só quero o que sinto... que serei sempre o que sinto. Afinal sinto, estou vivo, não é ?Porque se a vida se pode referir ao processo em curso, do qual os seres vivos são uma parte; ou ao espaço de tempo entre o nascimento e a morte dum organismo;ou mesmo à condição duma entidade que nasceu e ainda não morreu. .. Não será, acima de tudo, aquilo que faz com que um ser vivo esteja… vivo? Essa força brilhante que se solta do ser?
Pedi um copo com água e paguei o café. Deixei uma chávena solitária no balcão do café. Deus e o Diabo continuaram a lutar com quem entrava, por uma moeda grátís, para a máquina das bolas coloridas.
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